terça-feira, 6 de março de 2012

Estuário do Leça

Quando ouço falar em estuário desponta, imediatamente, na minha mente, uma imagem amarelada de por de sol de primavera de uma foz de um rio com água salobra, bancos de areia, algum sargaço perdido na baixa ondulação, um cheiro a “mar” durante a maré baixa, gaivotas estridentes a lutar por um bocado de massa de há 3 dias que alguém pôs num tamparuere (definição: uere com tampa) para alimentar gatinhos vadios, famintos e tinhosos (definição: gatos com tinha que só têm pelo à volta das orelhas), pescadores de domingo a tentar sacar umas tainhas e, como não poderia deixar de ser, um bando de aves esguias, de pernas compridas, fininhas e cor de laranja, com um bico de 3 metros de comprimento cheio de dentes e estáticas à espera que o sol acabe (há quem lhes chame cegonhas, flamingos, pelicanos e até garnisés). Tirando a parte do tamparuere, isto até parece um sítio agradável para gozar dos últimos raios de sol. E de facto até é! Pensem nos estuários do Tejo, do Sado, do Douro, do Guadiana, na Ria de Aveiro, etc. Todos eles têm algo em comum (para além do tamparuere de massa, claro). Mas alguns rios distinguem-se um pouco destes (deve ter sido causado por algum fenómeno que Darwin não explicou ou por alguma era glaciar da qual não reza a história). Falo, claro, dos nossos queridos rios Leça, Ave, entre outros. O rio Leça, em particular, tem um dos mais peculiares estuários de que há conhecimento em Portugal. Ali, a fauna e a flora abundam e formam até um micro-habitat que o caracteriza. Apesar de ser um estuário com uma área pequena, é de uma riqueza biológica, paisagista e arquitetónica que deveria ser considerado parque nacional e património da UNESCO. No outro dia passei por lá e parei 3 segundos para vislumbrar tal maravilha. Quanto à flora, o que mais se vê são quercus guindastis que é uma espécie de árvore com rodas e tromba rica em ferro. Mas o que mais me fascina ali é mesmo a fauna. Há de tudo: cianobactérias (não as vi mas sei que estão lá – sente-se o cheiro delas), mugil brasiliensis (vulgarmente conhecida como Tainha), rattus novergicus (o comum e tão afável rato de esgoto), rhynchophorus ferrugineus (escaravelho vermelho), etc. Mas os mais imponentes animais, da família das cobras ou das focas (por não terem patas), são os petroleiris barcassus e os contentoris pirogae. Estes seres têm uma incrível capacidade de camuflagem. Parecem polvos ou chocos com tinta! Conseguem fazer com que a água à sua volta mude de cor…

Quem diria que esta água já passou por aqui:

1 Comentários:

Blogger EMcbeal disse...

Terminas com uma imagem muito bonita!
Devo-te dizer que na bonita localidade de Leça do Balio, onde este rio tem este lindo aspecto, o odor que se faz sentir faz com que se formem na minha cabeça imagens muito semelhantes às que referes! :D

7 de março de 2012 às 07:19  

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