Momento Parolo
O jornalismo tem vindo a perder qualidade desde o momento em
que foi inventado. Os jornais e as rádios ainda vão mantendo algum nível, mas a
televisão há muito que devia ter mudado o nome dos telejornais para algo do
género “Cusquice das 8h” ou “Notícias da treta” ou ainda “O deprimente
noticiário da noite”. A TVI é a pioneira deste novo (entenda-se desde que a TVI
existe) tipo de noticiários nos quais o jornalista é o centro do Universo e a
função dele não é, somente, dar a notícia, mas sim opinar acerca de assuntos que
muitas vezes desconhece. O jornalismo atingiu a medalha de ouro do baixo nível com
uma minissérie que dava na TVI, todos os dias às 20h, em que o Oscar de pior
maquilhagem foi atribuído ao vencedor do Oscar de calunioso-mor (para os mais
desatentos, falo-vos daquela moça com cara de borracha e sorriso pepsodent da
qual não me recordo, nem quero recordar, o nome). Porém, quando se achava que
era impossível bater este recorde, eis que todas as estações de televisão chegaram
a um consenso para a alteração do contrato global de trabalho do jornalista
passar a incorporar a nova função de comentador. Acordaram ainda que todos os
noticiários deveriam ser compostos por 70% do tempo dedicado ao futebol, com a
ressalva de que, em casos raros, sempre que não houvesse qualquer jogo nos
últimos 3 dias (nem sequer na 7ª divisão do campeonato vietnamita), estes 70%
do tempo deveriam ser ocupados com catástrofes (aparentemente) naturais como
incêndios ou, em dias de chuva, recordações da erupção do vulcão dos Capelinhos.
Contudo, o mais hilariante deste pacto foi a introdução de um novo pacote de
notícias, a ocupar os restantes 30% do noticiário, intitulado “momento parolo”.
Este bloco informativo é uma cópia frustrada do bloco de notícias “no comments”
da euronews. E digo que é uma cópia frustrada porque em vez de estarem calados,
os jornalistas invadem as praias e as ruas em busca do animal mais travicoso
que lá houver, para fazerem troça dele em pleno noticiário. Todos vós já devem
ter visto uma notícia sobre o verão do Algarve no qual se vê o jornalista a
entrevistar um pacóvio de palito na boca, sem dentes à frente, tatuagem no
braço a dizer “amor de mãe”, calções de banho pantaleão mais pequenos que
cuecas de fio dental (estilo Zézé Camarinha) e a dirigir-se para a sua toalha
de gaja nua (tipo calendário da Pirelli) a cambalear por causa das dores que a
areia quente provocam nos joanetes. Acreditem, pior figura faz o jornalista ao
perguntar-lhe: “Então, companheiro? Não fuja, estamos em direto! Que tal a
praia? Está boa? É verão não é? Não é nada normal estar este calor no Verão
pois não? Eu venho aqui fazer entrevistas às pessoas desde o ano passado e nunca
vi calor como este! E o Sol? Sempre amarelo, não é? Dizem que brilha assim há
milhões de anos! Então e a água? Já foi à água? Parece que este ano há
tubarões, alforrecas e maremotos...”. O ciclo repete-se! Não tarda vem o
regresso às aulas, depois os dias estranhamente frios de inverno, a crise dos
shoppings cheios no Natal e, claro, futebol quanto baste…
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